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- O Visionário de Atlântica. - por Abraão Silva Dias
Postado por: Giro do Wal
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Olá amigos, aqui vai
mais um trecho do livro, agora parte do terceiro capítulo. Espero que gostem.
Boa leitura! Abraços!!!
Três
***
Um
fantasma quase real.
...
...
Assim cada um voltou a sua função e
Maylin foi para a sua sala preparar documentos e relatórios da clínica. A sala
do Dr. Yosef estava impecavelmente bem arrumada, Pois ele era muito detalhista
e perfeccionista, gostando de tudo no seu devido lugar.
Maylin entrava várias vezes na sala de
Yosef para deixar os documentos prontos para ele. Dois bilhetes em uma estante
de livros diziam:
“Deseje o conhecimento como quem deseja
o ar para respirar.”
“Não toque nos livros.”
Maylin entrava várias vezes na sala e
ficava intrigada com as frases.
- Isso é tão contraditório! – Dizia ela
para si mesma. – como pode um dizer: ‘Deseje
o conhecimento’ e o outro dizer ‘Não
toque.’? Isso é mesmo estranho, afinal de contas, os livros dão
conhecimento.
A semana logo chegou ao fim, já era
sexta feira, dia de por toda a clínica em ordem antes da chegada do Dr. Yosef.
Seria mais um fatídico dia? Ou algo
estava para acontecer?
Maylin entrou na sala do Dr. Yosef para
arrumar várias pastas pela manhã. Ela era muito curiosa e por várias vezes
olhava intrigada para os livros na estante grande de madeira entalhada. Às
vezes lia um título aqui e outro ali sempre com os dedos nervosos, agitados
querendo tateá-los.
Ela então passou o dedo numa fileira de
livros e parou em um que dizia: “Desvendando
o Inconsciente.”
Ela posicionou os dedos para retirar o
livro e quando ia puxá-lo, Janaína apareceu na porta.
- Oi Maylin, tem uma cliente de São
Paulo querendo falar com o responsável da clínica. E essa pessoa no momento é
você.
- Tudo bem eu já estou indo.
- Só uma dica. – Disse Janaína
apontando para os bilhetes presos a estante. – Ali está dizendo que é proibido
mexer nos livros.
- Eu sei. – Disse Maylin se afastando
devagar e deixando a sala. – Eu só estava limpando.
- Mas o Dr. Yosef, já disse que é pra
deixar que ele mesmo cuida da estante dele.
- Está bem. Obrigada por me lembrar,
Janaína.
- De nada.
- Agora vamos.
Maylin saiu indo para a recepção
atender a cliente vinda de São Paulo.
- Olá, tudo bem? – Cumprimentou Maylin
apertando a mão da mulher.
- Olá, mas não está tudo bem. – Disse a
mulher loira de olhos azuis que usava um terninho preto e brincos de diamante.
– A senhora tem que me ajudar.
- Venha comigo, por favor. – Disse
Maylin tocando levemente no ombro da mulher e conduzindo-a para uma saleta.
A saleta era pequena com quatro
poltronas dois quadros grandes de natureza morta e uma parede de vidro dando
para um belo jardim.
- Quem é a senhora e o que aconteceu?
- Como, ‘quem é a senhora?’! – Disse a
mulher agitada. – Eu estive aqui há uns três meses fazendo uma inseminação
artificial e veja como eu ainda estou.
Maylin olhou sem jeito para a barriga
da mulher que ainda estava bem pequena pelo tempo.
- Bem, senhora...
- Eu vou dizer meu nome pela ultima vez
e espero que você não esqueça. – Disse a mulher apontando o dedo na cara de
Maylin. – Eu me chamo Carmen. Entendeu?
- Entendi. – Respondeu May em tom
calmo.
- Carmen Mares.
- Escute Sra. Carmen Mares. – Disse May
tentando passar tranquilidade, porém já ficando nervosa. – Nós estamos
profundamente interessados em ajudar a senhora. Então...
Nessa hora apareceu Janaína novamente e
interrompeu a conversa.
- Me desculpe interromper, mas tem uma
chamada importantíssima para você Maylin.
- Importantíssima! – Repetiu Maylin.
- É o Dr. Yosef. – Disse Janaína
gesticulando com a boca para que Carmen não ouvisse, já que estava de costas em
uma das poltronas.
- É rapidinho, eu já volto. – Disse
Maylin levantando-se.
- Como é que pode uma ligação
telefônica ser mais ‘importantíssima’ do que o meu assunto aqui. – Indagou
Carmen esbravejando.
- É um caso muito sério também. – Disse
Janaína.
- Distrai ela que eu já volto. – Pediu
May saindo da sala.
- A senhora quer um café? – Perguntou
Janaína para a Carmen.
- Eu quero que você cale a sua boca e
alguém resolva o meu problema logo!
Janaína ficou quieta de olhos
arregalados e braços cruzados enquanto a mulher a olhava com muita raiva.
Maylin entrou em uma das salas e
atendeu o telefone.
- Alô.
- Alô, Maylin.
- O senhor já está voltando?
- Eu já estou no Brasil e chego aí só
hoje a noite.Está tudo bem por aí?
- Foi tudo bem durante a semana, mas
hoje nós estamos com um grave problema.
- O que aconteceu?
- Tem uma cliente aqui de São Paulo,
ela se chama Carmen Mares. E ela está muito brava, parece que a inseminação
dela não deu certo.
- Onde ela está?
- Na saleta no fim do corredor com a
Janaína.
- Vá para lá agora e me deixe falar com
ela.
Maylin saiu apressada pelo corredor e
levou o ramal telefônico até a cliente que a essa altura berrava com Janaína.
- Eu estou vendo que vou ter que
processar essa clínica. E você para de só me olhar e faça alguma coisa.
Janaína olhava-a assustada e encolhida.
- Senhora Carmen, o Dr. Yosef está na
linha e quer falar com você.
Carmen arrancou o telefone da mão de
Maylin e saiu andando em círculos pela saleta.
- Dr. Yosef, eu confiei no seu trabalho
e agora já se passaram três meses e nenhuma barriga. Porque?
O doutor começou a falar com ela, mas
Maylin e Janaína só observavam a mulher andando de um lado para o outro.
- Mas doutor, eu...
Yosef continuou conversando com a
mulher que agora sentou-se em uma das poltronas com semblante mais controlado.
- Eu entendo Dr. Yosef. É que...
- O que será que ele está falando com
ela? – Sussurrou Janaína para Maylin.
- Eu também gostaria muito de saber o
que é.
- Ok, Dr. Yosef, eu entendo e...
Yosef falou mais uns minutos com a
mulher enquanto May e Janaína olhavam curiosas. Depois de mais uns minutos,
Carmen Mares desligou o telefone e entregou-o na mão de Maylin. A mulher antes
histérica, agora estava calma e abobalhada.
- Está melhor, agora? – Indagou Maylin.
- Sim.
- O Dr. Yosef te ajudou? – Perguntou
Janaína.
- Sim, eu volto na segunda. – Respondeu
a mulher pegando sua pequena bolsa prateada e saindo quieta e calmamente da
saleta.
- O que será que ele disse para ela? –
Indagou Maylin.
- Ela ficou calminha!
Maylin saiu da saleta e foi com Janaína
para a outra sala onde continuou a trabalhar pelo resto do dia.
A noite chegou e Maylin ainda ficou
digitando alguns documentos para por na mesa do doutor.
Já eram sete horas quando a clínica já
estava em completo silêncio e quase toda escura. Somente o segurança terminava
de checar os alarmes, janelas e portas enquanto ela imprimia alguns documentos
em sua sala.
Ela saiu levando uma pilha deles a sala
do doutor onde os pôs em cima da mesa. Quando ia saindo deu mais uma olhada
para a estante de livros e bateu os olhos em um que era verde e tinha o
seguinte título: “Ética e Clonagem.
Compatíveis?”. Ela ficou curiosa e resolveu dar uma olhada nele antes de ir
embora.
Maylin teve de subir em uma cadeira, já
que o livro estava no alto. Ela pôs sua mão no livro e por um momento pensou em
não pegá-lo, mas acabou puxando-o de leve. A estante estremeceu e Maylin
desequilibrou-se da cadeira caindo no chão e batendo a cabeça na quina de uma
mesa. Ela ficou zonza e teve a impressão de ver a estante abrir numa espécie de
pequena passagem secreta. Ela olhou assustada ainda com a vista embaçada e
zonza e ouviu uns urros feios vindos de dentro da estante.
- O que é isso? – Perguntou ela tentando
se levantar.
Ao apoiar uma das mãos na estante, um
livro grande e vermelho caiu do topo atingindo a cabeça dela. Ela acabou
desmaiando.
Mais flashes e imagens fragmentadas
piscavam em sua mente. Uma menininha com medo encolhida no canto de um quarto,
um guarda-roupas velho e escuro que parecia assombrado. Depois uma escada em
forma de caracol que dava para um subterrâneo e olhos vermelhos no meio do nada
que vinham em sua direção.
- Não, não, não! – Dizia ela apavorada.
Abraão Silva Dias, estudante de Letras
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