Postado por: Giro do Wal quinta-feira, 11 de setembro de 2014


<<< PAXECO >>>

“Doutor! Sim! Dô-u-tor!” Dizia Paxeco a alguém do outro lado da linha telefônica. Talvez ele tenha se acostumado errado. Afinal os frentistas chamam todo mundo de Doutor. “O doutô quer que enche o tanque?” “É pra limpá o parabrisa?” Dizem entre sorrisos e um bom dia/tarde/noite. Vacilo do Paxeco. Advogado não é Doutor.
                Costume besta esse pessoal do interior carrega por aí. Na verdade, nosso herói dos dias úteis não chegou a fazer a prova da OAB. É que o curso de direito foi feito a distância. A mãe trouxe um endereço, logo depois que ganhou dispensa do hospital que estava internada lá na capital. O Paxeco mesmo nunca saiu de Capelinha. Fazia tudo pelo correio até a chegada da internet.
                Não sei se por medo ou receio, dizia que era preciso manter as tradições.
                Terminou a faculdade sem ler um livro sobre a constituição. Pegou a herança do avô e reformou a sala da casa da tia. Transformou num cômodo. Começou a doutorar. Palavras dele e não minha.
                Assim que uma dessas empresas telefônicas instalou nos arredores da cidade uma antena, ele foi o primeiro a comprar um celular. Ligava para os amigos de escola, que hoje exerciam um papel importante na vida, mas visitá-los era algo praticamente impossível. Dizia sempre que estava ocupado demais com alguns processos.
                O problema é que o maior acontecimento daquela cidade era o Jubileu que acontecia uma vez por ano.
                Creio que nosso Doutor Paxeco continuará se iludindo e deixando a tradição garantir a sua careca inconfundível o título que ele enche o peito para ostentar. 



João Bennett um quase goiano, quase ator, quase escritor, quase legal. Tenho direito de permanecer em silêncio, tudo que eu disser pode, e será, usado contra mim.
* Confiram mais em : http://cronicasdeumquartoazul.blogspot.com.br/

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