Postado por: Giro do Wal terça-feira, 24 de setembro de 2013



- Para Casa - 


Trata-se de um ritual. Bem simples por sinal. Rodolfo finge febre, rola na cama e lambe as palmas das mãos, sutilmente, afinal, os pais não podem perceber. Mais um dia sem fazer o dever.
                Com toda certeza levará anotação na caderneta, isso se chegar a ir a escola, mas os pais não assinam, de fato nem olham para a pobre agenda. Porém, há sempre um porém, a criança se sente mal. Se não me engano é Freud que chama isso de culpa cristã. Os coleguinhas o admiram, ele enfrenta as regras. Mantém a pose de durão, não abre mão das suas horas de diversão por um dever simples.
                É um garoto inteligente, aprendeu a ler no auge dos seus quatro anos de idade, aos seis resolvia equações de primeiro grau e mantinha um diário escondido por entre as cobertas, no guarda roupas. Mas deixar de lado o castelo do Mario por uma tarefinha com quatro exercícios de ciência é ultrajante, estão zombando de sua inteligência.
                A família já não percebia que a criança não comia verduras, ou algo além de carne. Essa recessão faz com que pais trabalhem e filhos se criem só. É um problema, os que não tomarem a TV como referencial farão um estrago tremendo na comunidade. Era para esse caminho que Rodolfo caminhava satisfeito, só que hoje não. Hoje Rodolfo rola na cama, de novo, lambe as palmas das mãos e finge leves tremidas de frio. Provavelmente passará a manhã de pijamas, lendo alguma revista em quadrinhos ou tirando sons desafinados daquele violão jogado atrás da porta.


João Bennett um quase goiano, quase ator, quase escritor, quase legal. Tenho direito de permanecer em silêncio, tudo que eu disser pode, e será, usado contra mim.






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